01 /Julho/2010 Histórico ARPA

 

 

Normalmente divulgamos aqui no Histórico da ARPA, eventos de confraternização, de alegria e realizações.

Nessa data de 01 de Julho de 2010 porém, perdemos um grande amigo, PY5IO - Henrique, nosso grande amigo de muitos encontros do radioamadorismo.

Reproduzimos abaixo a mensagem de

PY5IP - Dirceu, destinada aos familiares e amigos que estavam presentes no velório na noite do dia 01.

Henrique deixará saudades aos familiares e aos muitos amigos que conquistou ao longo de sua vida.

 

 
 

Abril de 1990, caça a raposa promovida pela ARPA.
Pessoal no local da "Raposa". Da esquerda para a direita: Pedro Stier, Jeferson, PY5TAT, PY5IO, PY5NF, PY5TA,
PY5VIC, PY5ARR e PY5SWR. Agachado, PY5DF

DESPEDIDA

NUNCA  FUI MUITO AFEITO  A DESPEDIDAS , MAS NOSSAS  VIDAS SÃO CONSTITUÍDAS  DE MUITAS  CHEGADAS  E CONSEQUENTEMENTE  DE IGUAIS  PARTIDAS.

Quase sempre a morte  de alguém é considerada infortúnio por aqueles que permanecem ainda na terra. Certamente é uma questão grave, mas não desgraça real, exceto para quem não creia na vida verdadeira, que se estende para além da aduana da morte, adentrando pelas largas e iluminadas portas da espiritualidade.

O dito popular expressa que só se leva da vida, a vida que se leva. Nós estamos nessa terra , mas não somos  desta terra.

Assim é  a morte . Embora a queiramos distante, essa megera ameaçadora  chega sempre em momentos impróprios, ela vem e arrebata os nossos amores,  nós mesmos.

De todas as certezas que pode ter o ser humano, a morte é sem dúvida uma delas. Quem nasce já está fadado à morte.

Mensageira estranha, por vezes, abraça antes os mais jovens e os mais sadios, deixando para trás idosos e doentes. Contudo, sempre chega.  Paradoxalmente, é um dos assuntos que quase todo mundo evita  tocar, Por isso mesmo que, quando chega, sempre surpreende.

Também por esse motivo, muitas lágrimas são derramadas sobre os túmulos. Lágrimas que se casam a exclamações como: “Ah, se eu soubesse que era o seu último dia! Se eu soubesse que ele iria morrer,  teria  convivido mais ! Se eu soubesse que ele partiria tão cedo, o teria abraçado mais, dito como o amava.” Por tudo isso, é bom considerar que nossa existência é muito efêmera. Hoje estamos aqui, amanhã poderemos não nos encontrar mais deste lado da vida.

Contudo, o Sublime Semeador da Verdade, na paisagem bucólica da Galiléia cantou a imortalidade, falando-nos da vida que nunca morre. Ao se despedir, na célebre noite que antecedeu a Sua prisão, afirmou aos apóstolos reunidos: Vou preparar o lugar para vós. E depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde Eu estiver, estejais vós também.

É a palavra de Jesus a nos dizer que a morte não passa de mera transição. Que morre o corpo mas o Espírito prossegue vivo, com todas suas virtudes, paixões, amores, conquistas. E Ele mesmo nos afirma que nesse novo mundo, o espiritual, para onde nos dirigiremos, não estaremos sós. Seu amor nos aguarda no carinho dos amigos que nos precederam, dos afetos desta e de outras vidas.

Morrer é, em verdade, um grande reencontro.


Do Henrique, retiremos todos lições de vida nesse  momento de enfrentamento de emoções. Naturalmente nosso coração  fica  dolorido  após todos esses  anos de convívio  e  amizade. Muitos de nós  convivemos  com o Henrique  e  estivemos  ao seu lado em muitas  e importantes ocasiões.

Juntos  acompanhamos  vitórias  , momentos  festivos , aniversários  e comemorações .
Juntos estivemos em ocasiões  mais  tristes , perdas de entes queridos , enfermidades .
Juntos  fomos  a  reuniões  , eventos ,  mar , e  lugares .

Acredito que todos os amigos e familiares do Henrique  viveram cada  amanhecer, cada entardecer , cada hora , usufruindo  da  maravilhosa  pessoa , do maravilhoso  pai, irmão e amigo que foi  , nos dando sempre lições de coragem e de como enfrentar as adversidades .

Foi o amigo Henrique  um guerreiro , um forte  que suportou  com  honra e dignidade  as  dores  e  todas  as  limitações  que  sua enfermidade lhe impôs . Mas como disse  ,  ele nunca se entregou . Sempre  teve  sonhos  e planos . Sempre esteve  disposto a ouvir  e  servir . Desejava sempre  um amanhã melhor . Usou cada  dia para o trabalho honrado. Estar com a família, com os amigos.


Na última ocasião que estive  com o Henrique, conversamos  sobre  vários assuntos da  vida e das  surpresas que ela pode nos dar  , mas  com  otimismo  sempre  lhe  dizia :   APROVEITE  O INTERVALO,  Ame muito.  Usufrua a companhia dos afetos .

Mas  hoje aqui  estamos para nos  despedir  de nosso amigo , pai , irmão e colega  Henrique .

Uma  ocasião, escutei  palavras de grande sabedoria  que sempre carreguei :  PERDEMOS  PORQUE TIVEMOS !  Hoje  tenho a certeza que  é uma frase que  serve para  acalentar-nos nesse momento .

Como  o Henrique  amava  o mar  e  as coisas  do mar , tomo a liberdade de  reproduzir  um texto  que nos  fala do mar , da vida  e da partida .
Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor. Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará:     Já se foi.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.
O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós.
Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas.
O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver. Mas ele continua o mesmo.
E talvez, no exato instante em que alguém diz: Já se foi, haverá outras vozes, mais além, a afirmar:      Lá vem o veleiro.
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos:   Já se foi.
Terá sumido? Evaporado?
Não, certamente. Apenas o perdemos de vista.

O ser que amamos continua o mesmo. Sua capacidade mental não se perdeu. Suas conquistas seguem intactas, da mesma forma que quando estava ao nosso lado. Conserva o mesmo afeto que nutria por nós. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita no outro lado.

E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: Já se foi, no mais Além, outro alguém dirá feliz: Já está chegando.

Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a viagem terrena.

A vida jamais se interrompe nem oferece mudanças espetaculares, pois a natureza não dá saltos.
Cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário. A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas.

Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Um dia partimos do mundo espiritual na direção do mundo físico; noutro partimos daqui para o espiritual, num constante ir e vir, como viajores da Imortalidade que somos todos nós.

Victor Hugo, poeta e romancista francês, que viveu no Século XIX, falou da vida e da morte dizendo:
A cada vez que morremos ganhamos mais vida.
As almas passam de uma esfera para a outra sem perda da personalidade, tornando-se cada vez mais brilhante.
Eu sou uma alma. Sei bem que vou entregar à sepultura aquilo que não sou.
Quando eu descer à sepultura, poderei dizer, como tantos: Meu dia de trabalho acabou. Mas não posso dizer: minha vida acabou.
Meu dia de trabalho se iniciará de novo na manhã seguinte.
O túmulo não é um beco sem saída, é uma passagem. Fecha-se ao crepúsculo e a aurora vem abri-lo novamente.